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Foto do escritorBenaia Silva

Manual para Famílias Atípicas: Como lidar com os fogos de fim de ano junto a hipersensibilidade

Atualizado: 6 de jan. de 2021


Os fogos de artifício têm idade e origem incertas, possivelmente foram descobertos por meio de experimentos de alquimistas chineses há mais de dois mil anos e desde então são utilizados em diversas festividades, principalmente no Ano Novo. Promovem um show pirotécnico e entretenimento por meio de sons, cores, luzes e também apresentam cheiros característicos. Apesar de ser apreciado por muitos esse espetáculo pode provocar sensações bem desagradáveis em indivíduos hipersensíveis como os autistas, por exemplo.


Por qual motivo os fogos de artifício causam desconforto em indivíduos hipersensíveis?


Para responder esta questão devemos conhecer conceitos como transtorno de processamento sensorial, sobrecarga sensorial e meltdown. O sistema nervoso dos indivíduos com transtorno de processamento sensorial tem dificuldade em processar os estímulos que chegam do ambiente e dos sentidos. A alteração pode ser de aumento (HIPER) ou diminuição (HIPO).


Na hipossensibilidade a pessoa precisa de bastante esforço ou excitação para sentir o estímulo, essas pessoas podem ter comportamentos como colocar objetos na boca, gostar e fazer muito barulho, ter menor resposta à dor, cheirar tudo o que veem, girar em torno de si mesmos.


As pessoas com hipersensibilidade têm uma resposta exagerada aos estímulos e os percebem com mais intensidade, neste caso luzes, cheiros, cores, sons, gostos, toques podem incomodar muito. Geralmente esses indivíduos não gostam de barulhos, se sentem mal ao ser tocados, odores comuns podem incomodar bastante, têm seletividade alimentar, variados tipos de texturas e roupas os incomodam. O transtorno de processamento sensorial é comum em pessoas autistas, mas pode ser diagnosticado também em pessoas não autistas (neurotípicas).


Já a sobrecarga sensorial ocorre quando uma pessoa é exposta a maior quantidade ou intensidade de estímulos do ambiente do que ela é capaz de processar, sendo comum de ocorrer nos indivíduos com transtorno do processamento sensorial. Após a sobrecarga sensorial o indivíduo pode ter reações diversas que vão desde isolamento social até irritabilidade e agressividade, pode apresentar também um meldown.



Meltdown é um termo da língua inglesa que, se traduzido literalmente, significa derretimento, porém no contexto da condição do espectro autista a melhor tradução seria como “colapso”. Se caracteriza por um período explosivo de raiva, incômodo, tristeza que pode se manifestar com choros, gritos, agressividade (tanto consigo quanto com os outros), neste momento a pessoa pode falar sozinha, jogar objetos, aumentar a quantidade de estereotipias ou stims (movimentos repetitivos), resumindo é uma reação emocional considerada desproporcional à situação. O meltdown gera sofrimento tanto ao indivíduo quanto as pessoas que convivem com ele, não é intencional.


Os fogos de artifício devido à quantidade luzes, cheiros, cores e sons promovem nos indivíduos hipersensíveis uma sobrecarga sensorial e caso o nível de estresse não seja controlado, podem provocar um meltdown.



Como promover conforto aos indivíduos hipersensíveis durante queima de fogos de artifício?


Os terapeutas ocupacionais são os profissionais que trabalham e orientam a melhor forma de intervenção para o transtorno de processamento sensorial. Associado ao que é proposto de intervenção pelo terapeuta ocupacional no consultório ele pode prescrever uma “dieta sensorial” (orientações e estratégias sensoriais para diminuir a reatividade emocional durante uma sobrecarga sensorial). Essa intervenção comportamental tem demonstrado resultados positivos em crianças autistas, porém sua efetividade ainda está em estudo.


Algumas medidas orientadas podem ser aplicadas para enfrentar a sobrecarga sensorial gerada pelos fogos de artifício, sendo elas:


- Caso a pessoa com hipersensibilidade seja criança é importante explicar o que são fogos de artifício, mostrar imagens, vídeos e preparar a criança para aquela situação



- Antes dos fogos é interessante observar quais são os estímulos que promovem sobrecarga sensorial naquele indivíduo (cada pessoa se sobrecarrega com estímulos diferentes)


- Explique para a pessoa como ela pode te sinalizar se já estiver chegando no seu limite



- Criar um ambiente confortável - com menor estímulo de luzes, cheiros, sons, cores, quantidade limitada de pessoas (de preferência pessoas conhecidas), faça com que a pessoa participe dessa organização e a deixe escolher objetos de conforto para deixar a disposição

- Descobrir antes quais são estímulos que promovem conforto à pessoa e a ajudam a se regular


- Uso de abafadores de sons - veja alguns exemplos abaixo (fotos retiradas da internet)


Protetor auricular - intra-auricular
Abafador de sons - externo

Abafador de sons - intra - auricular

- Outras estratégias que podem ajudar: cobertores ponderados, balanços sensoriais, bolinhas anti estresse e outros brinquedos sensoriais, objetos massageadores. Veja alguns exemplos abaixo (fotos retiradas da internet)


Garrafinhas sensoriais
Brinquedos sensoriais














- Uso de ruídos brancos - som que combina frequências sonoras diferentes e oscila entre elas constantemente. Objetivo é que ruído cubra todo o espectro de som e mascare outras frequências sonoras que atrapalhem a pessoa se concentrar ou dormir. Esse tipo de som só pode ser gerado por aparelhos eletrônicos. Pode ser encontrado em alguns vídeos no YouTube e sites específicos, veja dois exemplos abaixo:




- Banhos preferencialmente mornos podem ajudar a promover relaxamento


- Caso a pessoa tenha estereotipias ou stims não a interrompa, pois é uma forma de ela se regular e ajuda no relaxamento. Interromper apenas os movimentos que a pessoa está agredindo a si ou outras pessoas ou ainda provocando algum dano material




Este texto foi produzido como atividade do Projeto Padrinho Med.


O projeto Padrinho Med foi idealizado pela médica Flávia Ju e tem objetivo de aproximar os médicos dos estudantes de medicina, promovendo troca de experiências e produção de conteúdo tanto científico quanto informativo à população.







Autora do texto: Talita Thalita Iaroczinski Alves dos Santos


Acadêmica do 4º período de medicina da Universidade Estadual do centro oeste (Unicentro)







Orientadora: Benaia Silva - médica neurologista pediátrica.



Para mais informações sobre a autora clique na imagem ao lado.






Referências Bibliográficas:


Samson AC, Hardan AY, Podell RW, Phillips JM, Gross JJ. Emotion regulation in children and adolescents with autism spectrum disorder. Autism Res. 2015 Feb;8(1):9-18. doi: 10.1002/aur.1387. Epub 2014 May 23. PMID: 24863869.

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Sensory hypersensitivity predicts repetitive behaviours in autistic and typically-developing children - Samantha E Schulz, Ryan A Stevenson, 2019 (sagepub.com)


3 Formas de Lidar com Fogos de Artifício Sendo Autista (wikihow.com)


Meltdown_shutdown.pdf (autismwestmidlands.org.uk)


O que é o ruído branco e como ele pode influenciar o sono - BBC News Brasil


Terapia de integração Sensorial e o Transtorno do Espectro Autista: Uma Revisão Sistemática da Literatura

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