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Amor no Espectro

Foto do escritor: Luis Paulo DutraLuis Paulo Dutra

Todas as pessoas dentro do espectro autista têm em comum a dificuldade na socialização. Isso porém não significa que eles não tenham o mesmo desejo de todas as outras pessoas, o desejo de ter relacionamentos, amizades, namoros, carinho, suporte e acolhimento. Mas se eles compartilham a dificuldade de interagir como eles irão conseguir formar esses laços?


Esse é um desafio que vários adultos, adolescentes e crianças acabam enfrentando em suas vidas. Às vezes se mostram muito grandes e geram frustração, mas, em várias outras, essas barreiras são superadas e histórias maravilhosas se tornam reais.



Uma nova série do netflix aborda a busca de jovens adultos dentro do espectro por relacionamentos amorosos. Muito bem produzido, o show nos mostra uma perspectiva totalmente íntima da vida dessas pessoas e de como pode ser complicado esse passo que para muitas pessoas é tido como uma parte natural e instintiva da vida.



No início do show já é proposto uma estratégia: se você está dentro do espectro basta procurar outra pessoa dentro do espectro que logo se entenderão. Mas, conforme as tentativas ocorrem, fica claro aquilo que muitas vezes citamos mas talvez não tenhamos assimilado completamente: o fato de o “Autismo não ter cara”. A cada novo participante do show observamos como são diversas os seus pontos fortes e fracos e como é amplo o espectro. E mesmo quando se encontram em níveis próximos, quando os interesses são muito diversos, parece que um abismo se cria. Quem sabe, intensificado pela sinceridade e rigidez cognitiva do TEA.



Alguns dos participantes recebem visitas de uma profissional em relacionamentos cujo trabalho é ajudar pessoas com necessidades especiais a encontrar um relacionamento amoroso. Em suas conversas iniciais ela avalia a prontidão do entrevistado em realizar atos simples de um encontro padrão. Apresentações, rotinas de como se sentar a mesa, como iniciar uma conversa (perguntar sobre interesses), como manter uma conversa equilibrada. Além de abordar questões fundamentais sobre o que é namorar, porque você quer isso, o que faz parte do ato de namorar. Inicialmente pode parecer óbvio, mas podem ser justamente esses conceitos uma das maiores barreiras. Por exemplo se alguém acha que namorar é apenas fazer sexo o comportamento dele será totalmente inapropriado durante um encontro. Assim como também seria se ele acreditasse que o único propósito de namorar é casar.



O grande valor dessa série é ensinar o amor. Não falo apenas da questão óbvia de mostrar as dificuldades das pessoas do espectro. Mas sim o ensinamento do amor para todas as pessoas que forem assistir ao show. O preconceito é muito próximo do medo, e medo é o verdadeiro oposto do amor. Trazendo essas pessoas para perto, como se fôssemos quase familiares, nos preocupamos com elas, torcemos pelo seu sucesso e assim as amamos. E assim, é um passo a mais para a desconstrução do preconceito.



Além de todo o valor educativo, a série é muito divertida. Eu torci para que cada encontro desse certo, comemorei e ri quando bem sucedidos e senti a frustração dos que não deram. Resumindo é um excelente show. Recomendo para todos dentro do espectro, para que reconheçam que a dificuldade é compartilhada. Recomendo a todos que desejarem conhecer um pouco mais sobre o espectro e também àqueles que apenas querem se divertir assistindo um bom programa.



Agora, sobre o amor, se realmente fosse fácil achá-lo porvavelmente não existiriam poetas, músicos e filósofos que dedicam a maior parte do seu tempo pensando sobre ele. A vida do homem é a busca pelo outro.



O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo

acha a razão de ser, já dividido.

São dois em um: amor, sublime selo

que à vida imprime cor, graça e sentido.




Esse texto foi escrito por Luis Paulo F S Dutra, médico neurologista pediátrico. Para mais informações sobre o autor clique acima.



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