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Musicoterapia no TEA e neurociência da música




♫“Parabéns pra você! Nessa data querida!...♫

Bebe olha para o lado enquanto a sua frente está um cupcake com uma vela acesa de 1 ano.
Aniversário de 1 ano

É muito difícil ler essas frases sem entoar a melodia dentro das nossas cabeças! A música faz parte da nossa essência humana. Ela é uma ferramenta de conexão social e cultural extremamente forte e presente no dia a dia mesmo que muitas vezes não lhe atribuamos o devido valor.


Nove mulheres cantam juntas em um coral dentro de uma igreja
Coral religioso

Vamos rever alguns momentos da nossa vida em sociedade. Quando vamos há uma festa há música, quando realizamos nossos rituais culturais ela também está presente. Existe uma melodia que marcou cada um dos grandes acontecimentos da nossa vida. Todo ano recebemos o parabéns cantado das pessoas que mais gostamos; é só ver uma foto de casamento que a marcha nupcial ressoa em nossas mentes; Quando vamos a um rito religioso, seja em tom alegre ou fúnebre a música também está conosco; Quando assistimos um jogo de futebol o hino retumbante marca seu início! E mesmo fora desses eventos cada uma dessas melodias pode nos transportar para um estado emocional diferente em questão de segundos. Além do estado emocional a música também representa nosso contexto social, origem e nação. Quer um exemplo? Capoeira, olodum, samba, carnaval, funk, sertanejo, MPB. Assim como nós criamos a música ela nos molda desde o momento em que nascemos.

3 homens tocando o berimbau em uma roda de capoeira
Berimbau na roda de capoeira

A ideia por trás de inserir a música em ambiente terapêutico está muito relacionada a essa sua capacidade de despertar emoções e criar laços. Além disso, é capaz de mobilizar processos cognitivos como atenção, memória, controle de impulsos, planejamento, execução e controle de ações o que ocorre principalmente quando o indivíduo participa ativamente na música cantando, tocando instrumentos, improvisando e compondo se movendo no ritmo!



Estudos recentes de neuroimagem em neurotípicos mostraram que a participação em atividades musicais envolve e ativa uma rede regiões cerebrais que envolvem audição, movimento, emoção, prazer e memória. Ao ativá-las de maneira positiva existe uma tendência de fortalecimento dessas conexões, isso é o fundamento do que conhecemos por neuroplasticidade. É como uma academia para o cérebro! Você usa uma função e a área dessa função se desenvolve e fica mais robusta estruturalmente e funcionalmente e isso traz consigo a possibilidade do uso terapêutico da música. Abaixo uma imagem de um estudo que avaliou a conectividade de diferentes regiões da ínsula com a profissão de músicos, dançarinos e população saudável geral. Eles demonstraram um importante aumento da função e conexão dessas regiões. É interessante ainda citar que a ínsula é conhecida sobre o seu papel na empatia e conectividade emocional.

No entanto, mais pesquisas são necessárias para demonstrar esse papel direto especificamente em pacientes dentro do espectro do autismo. Abaixo uma imagem que mostra essa correlação de conectividade e comportamento e melhora de ambos após musico terapia no TEA. Se quiser acessar o artigo é só clicar na imagem!


Terapias com música já mostram resultados positivos comprovados em condições como Alzheimer ao amenizar sintomas relacionados à demência e pode ajudar com a redução de ansiedade em pacientes com câncer. Ela também contribui com questões cognitivas e emocionais, trazendo benefícios sociais, o que pode tornar esta técnica promissora dentro do TEA.


O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), como já mencionamos em outros posts aqui no pequenos neurônios, apresenta uma grande variedade de apresentação dos sintomas, além da tríade clássica do TEA, que é composta por dificuldades em interação, comunicação e comportamento também pode estar presente alterações de sensibilidade, padrões limitados ou estereotipados de comportamentos e interesses específicos e todos esses elementos comprometem muito a capacidade de socialização das pessoas atípicas. Sendo assim, a comunidade científica busca alternativas terapêuticas com o objetivo de ajudar essas crianças a evoluírem nestas características.


Atualmente, as evidências da eficácia das intervenções musicais são limitadas e não há base neurocientífica muito clara para seu uso em TEA. No entanto, dado o impacto da música no funcionamento social e conectividade do cérebro, as atividades baseadas na música podem restaurar a conectividade cerebral alterada e as dificuldades sociais no TEA. Existem dois possíveis mecanismos induzidos pela música e seu impacto no funcionamento social que podem ser propostos: (1) modulação da região do córtex cerebral para reforçar a aprendizagem de comportamentos não musicais, como interações sociais; (2) integração sensorial e motora por meio do som e ativação auditivo-motora de redes neurais por meio sincronização levando à modulação do processamento sensorial atípico, que por sua vez pode melhorar a comunicação social.

Uma criança observa e enta acompanhar o ritmo da musica com seu pequeno tambor e baquetas enquanto um adulto toca violão ao seu lado
Seguindo o ritmo

Existe uma importante relação das pessoas com TEA e música, sendo que o componente instrumental é o que desperta a conexão da música com o paciente. Alguns autores sugerem que a presença de uma pulsação regular e previsível em canções é responsável por criar essa conexão com o paciente e faz com que ele crie prazer diante da música. Diante disso, a musicoterapia promove experiências ativas com a música por meio de atividades de audição, performance, composição, improvisações e as escolhas destas atividades são de acordo com as necessidades do paciente, gostos e ideias do paciente sobre a música.


Entre outros, os principais objetivos da musicoterapia em pacientes que apresentam TEA são:

  • Criar uma relação comunicativa por meio da música

  • Desenvolver e/ou ampliar a capacidade de expressão

  • Diminuir ou se possível extinguir comportamentos que podem afetar negativamente a vida do indivíduo como isolamento, hiperatividade, auto agressividade, estereotipias, tensões emocionais, desorganização de linguagem e outros

  • Ajudar o paciente a assimilar melhor mudanças/ variações

  • Ultrapassar e/ou remover obstáculos emocionais e/ou cognitivos existentes

  • Desenvolver um senso de fluxo temporal

  • Desenvolver e ampliar a comunicação por meio da linguagem não verbal pois muitos pacientes apresentam dificuldade em compreender e codificar ‘símbolos’ convencionalizados pela sociedade

  • Desenvolver a comunicação e interação social


Uma criança de olhos fechado mantem cointato com as mãos no tampo do violão para sentir a vibração do som enquanto outra pessoa o toca
Sentindo a música

Todos esses objetivos levam em consideração aspectos individuais de cada um de acordo com nível de comprometimento e necessidades. A finalidade primordial da terapia é reduzir os impactos do TEA e ampliar a independência funcional e a qualidade de vida do paciente.


Segundo uma metaanálise (estudo que resume estatisticamente o resultado de diversas pesquisas em uma só) publicada na revista científica Cochrane, a musicoterapia pode sim ajudar crianças a melhorar suas habilidades em interação e comunicação social, elementos essenciais na adaptação social. No entanto, isso ainda não é consenso dentre todos os pesquisadores. Existem ainda resultados conflitantes em estudos quanto a superioridade da musicoterapia em relação a outros tratamentos dentro do TEA. Entre outras limitações, faltam evidências para determinar de maneira mais específica quanto tempo os efeitos da musicoterapia persistem e por quanto tempo teria que ser aplicada para trazer resultados efetivamente positivos. Além disso, estudos enfatizam a necessidade de pesquisas envolvendo maior número de pacientes.


 Uma a dolescente com Trissomia do 21 se diverte junto a uma adulta que está segurando um violão
Diversão e violão

Apesar dessas limitações, a música apresenta benefícios comprovados em alguns aspectos e vem conquistando espaço entre as alternativas terapêuticas dentro do TEA.



Este texto foi produzido como atividade do Projeto Padrinho Med.


O projeto Padrinho Med foi idealizado pela médica Flávia Ju e tem objetivo de aproximar os médicos dos estudantes de medicina, promovendo troca de experiências e produção de conteúdo tanto científico quanto informativo à população.







Autora do texto: Larissa de Andrade


Acadêmica de medicina da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná













Coautor e revisor Luis Paulo F S Dutra, médico neurologista pediátrico.


Para mais informações sobre coautor e revisor do texto clique no logo ao lado.







Referências


Sharda M, Tuerk C, Chowdhury R, et al. Music improves social communication and auditory-motor connectivity in children with autism. Transl Psychiatry. 2018;8(1):231. Published 2018 Oct 23. doi:10.1038/s41398-018-0287-3


Srinivasan SM, Bhat AN. A review of "music and movement" therapies for children with autism: embodied interventions for multisystem development. Front Integr Neurosci. 2013;7:22. Published 2013 Apr 9. doi:10.3389/fnint.2013.00022


Ehrlich SK, Agres KR, Guan C, Cheng G. A closed-loop, music-based brain-computer interface for emotion mediation. PLoS One. 2019;14(3):e0213516. Published 2019 Mar 18. doi:10.1371/journal.pone.0213516



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