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Neurocovid: A Covid-19 não é uma doença que prejudica só o pulmão!



A pandemia do Novo Coronavírus mostrou, desde 2019, que o vírus Sars-Cov-2 possui altas taxas de transmissibilidade somado ainda a um conjunto de sintomas e acometimentos patológicos dos quais a população, a nível mundial, ainda não possuía conhecimento e controle.


Os sintomas mais divulgados acerca da doença viral são febre, tosse seca, cansaço, diarreia, dor de garganta, perda de olfato e paladar e o mais temido: dificuldade respiratória. Entretanto, o vírus não para por aí, existem estudos evidenciando que o sistema nervoso central também pode ser afetado.


Quais são as consequências neurológicas geradas pela COVID-19?


Por se tratar de um vírus novo, diariamente novos estudos estão sendo realizados e analisados nos pacientes positivos para SARS-CoV-2. Mas, já temos algumas classificações, relatadas pela neurologista Cristiane Borges Patroclo em seu artigo disponibilizado na PedMed, destacando os seguintes acometimentos:


- Evento que prejudique a irrigação sanguínea correta do cérebro, conhecido como evento cerebrovascular. Na COVID-19 vemos que há uma inflamação amplificada, o que facilita a formação de coágulos os quais podem obstruir vários vasos sanguíneos, causando inclusive isquemia (morte por falta de circulação sanguínea).


- Modificações no estado mental como depressão, ansiedade, convulsões, psicose, demência, encefalite (inflamação do cérebro ocasionada por um vírus) e até mesmo encefalopatia (complicação hepática relacionada a interferência na função cerebral). Destaca-se que a provável causa deste evento seja o rompimento da barreira hematoencefálica.


- Problemas relacionados com o sistema nervoso periférico, se apresentando principalmente como fraqueza e dificuldade de movimento dos membros, a exemplo de Síndromes como Guillain Barré e Miastenia gravis.


Como o vírus chega ao cérebro humano?


As vias mais conhecidas para o SARS-CoV-2 atingir o sistema nervoso central são o sangue e os nervos periféricos, como o nervo olfatório (II par craniano) o qual tem ligação com a cavidade nasal, onde o vírus pode se alojar.


Qual a região do sistema nervoso central que o SARS-CoV-2 pode acometer?


Existem estudos ainda analisando qual o local do encéfalo que o vírus realmente se instala, um deles está sendo realizado em território nacional, e está aguardando aprovação de outros cientistas. Nessa análise, pesquisadores do D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Instituto do Cérebro, veem que a relação se encontra na fragilidade da barreira hematoencefálica e na grande quantidade de receptores da ECA na região do plexo coróide, facilitando assim a instalação e replicação do vírus no cérebro. (a ECA será melhor explicada no último item).





Mas vamos por partes, o que seria o plexo coróide e a barreira hematoencefálica?


O plexo coróide é uma região do cérebro, dentro de ventrículos, responsável pela produção do Líquido Cefalorraquidiano (LCR), o qual é responsável por nutrir o órgão. Assim, se essa área for afetada pelo vírus, inúmeras alterações –como citadas acima- podem ocorrer com maior facilidade.


Já a barreira hematoencefálica é, como o nome diz, uma barreira responsável por selecionar a passagem de moléculas do sangue para o ambiente em contato com os neurônios. Assim, como essa proteção é mais fraca no plexo coroide, é mais fácil do vírus passar para o ambiente interno do cérebro, sem ser filtrado e combatido.


Outro ponto importante, a perda de olfato está relacionada com algum comprometimento neurológico?


Sabe-se que a anosmia, popularmente conhecida como perda de olfato, é um dos sintomas mais comuns em pacientes positivados para COVID-19, entretanto na maior parte dos casos relatados é uma situação transitória. Ou seja, a causa da perda de olfato não está vinculada a um problema que envolva o sistema nervoso e seus componentes, eliminando também a dúvida mais comum: “Há dano no nervo olfatório?”, o que diferente do que se pensava no início da pandemia, não ocorre.


Mas porque algumas pessoas param de sentir o cheiro então?


A fisiopatologia da anosmia é explicada de forma simples, ocorre na verdade a morte de algumas células da mucosa olfatória, as quais possuem muitos receptores da enzima conversora da angiotensina (ECA), principal local de ligação do SARS-CoV-2, devido a presença da proteína spike na superfície viral. Ou seja, podemos pensar que a ECA (presente na mucosa olfatória e pulmão, por exemplo) e a proteína spike (formadora a cápsula vital) formam um sistema de chave-fechadura, que se ligam e possibilitam que o vírus se instale no organismo.




Dessa forma, o vírus se instala nas células respiratórias e provoca a morte dos receptores de aromas. Entretanto, vale ressaltar que esses quadros geralmente são revertidos em cerca de 14 dias após início dos sintomas, devido a regeneração das células olfativas. E, ainda não existem estudos que comprovem que algum tratamento seja eficaz para melhora rápida desse acometimento, alguns profissionais recomendam uso de terapias com óleos essenciais, outros recomendam terapias atreladas ao uso de medicamentos, e outros indicam que a melhor ação é aguardar o tempo de renovação das células. Assim, o mais indicado é procurar o seu médico de confiança para avaliação individual.


Abaixo tem um vídeo bem interessante, publicado no Portal da FioCruz, no qual a pesquisadora Patrícia Garcez explica sobre esse processo:



Conclusão


Percebe-se que as consequências do SARS-CoV-2 são inúmeras e ainda é necessário que se realizem mais estudos para ampliarmos nosso conhecimento sobre essa nova doença. Portanto, é indiscutível que cada um continue fazendo a sua parte, com cuidados individuais como o distanciamento social, o uso do álcool gel e a proteção da máscara, além claro de apoiarmos a vacinação de todos os cidadãos, com o intuito de eliminarmos a disseminação do vírus e atenuar assim as complicações patológicas geradas por ele.


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Este texto foi produzido como atividade do Projeto Padrinho Med.


O projeto Padrinho Med foi idealizado pela médica Flávia Ju e tem objetivo de aproximar os médicos dos estudantes de medicina, promovendo troca de experiências e produção de conteúdo tanto científico quanto informativo à população.







Autora do texto: Janaína Carine Beling



Acadêmica do 4º período de medicina da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC)














Coautora e revisora Benaia Silva - médica neurologista pediátrica.


Para mais informações sobre a autora clique na imagem ao lado.






Referências:


LEDO, Maria Eduarda. Pesquisadores do IDOR evidenciam pela primeira vez infecção de cérebro infantil pelo Sars-Cov-2. Instituto IDOR Pesquisa e Ensino. Disponível em: https://www.rededorsaoluiz.com.br/instituto/idor/novidades/pesquisadores-do-idor-evidenciam-pela-primeira-vez-infeccao-de-cerebro-infantil-pelo-sars-cov-2. Acesso em: 28/02/2021.


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Anosmia relacionada à Covid-19: por que acontece e como podemos tratar?. Portal PedMed, 2020. Disponível em: https://pebmed.com.br/anosmia-relacionada-a-covid-19-por-que-acontece-e-como-podemos-tratar-podcast/. Acesso em: 28/02/2021.


Imagens


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